Saímos de Nazca em direção à Ica. Desta vez eu iria conhecer um lugar que fiquei na vontade quando passei por ali pela última vez: Huacachina. Este lugar é um oásis no meio do deserto, e os peruanos gostam tanto que ele ilustra a nota de 50 soles.

Se você acha que já viu dunas enormes na vida, você precisa conhecer Huacachina. Elas não deixam a desejar a nenhuma duna do oriente médio. Elas são enormes, e acredite, não tem nenhuma graça subir uma delas a pé.

A descida de sandboard nestas dunas é longa, muito longa. Há também um passeio, em uns buggys, que no Brasil é chamado de aranha. Lembra muito os passeios em Natal, mas as dunas são quatro vezes mais altas. São dunas de deserto e não de praia, como nós conhecemos.

Chegamos de tarde e tivemos a sorte de ver o por do sol nas dunas. A principal atração do lugar. Aquele por do sol eu nunca vou esquecer na vida. Foi lindo.

Ficamos lá em cima até escurecer. A Ana desceu a pé e foi atacada por uns cachorros peruanos e eu desci de sandboard e fui atacado pelo Tapa. O “Sr. Muita Alegria Por Nada” ficou tão feliz  que me “atacava” enquanto eu deslizava na duna. Graças ao fedorento eu caí e nós dois descemos rolando a duna por quase 1000 metros. Isso mesmo, quase um kilometro rolando a duna abraçado a um cachorro preto no escuro. Estou com areia no ouvido até hoje.

Encontrei com a Ana no pé da duna e fomos tomar umas cervejinhas num bar em volta do lago. Comidinha barata e deliciosa. Cervejinha quase quase gelada, estava bom demais... e acabou a luz enquanto esperávamos nosso rango. Blackout geral. E o oásis mergulhou na escuridão das dunas. Maneiro!

 

Sempre há uns hippies felizes, levando um som nessas horas, ainda bem. Havia um bebum fazendo um show pirotécnico, com malabares, no escuro que acabou sendo um excelente entretenimento. Às vezes luz não faz falta, e nesta noite ela não fez.

Acordamos, demos uma volta no lago que fica no meio das dunas e esperamos o Tapa fazer a mega-farofa dele. Nadar, rolar na areia, nadar de novo e rolar em alguma poça de esgoto fedorenta, se houver.

Os peruanos adoraram ver a farofa do Tapa. Um peruano gritou:

-Este perro precisa hablar!!!! Hable perro, hableeee!!!

Achamos engraçado.

 Namorar nos pedalinhos naquele oásis é o máximo do romantismo por aquelas bandas. E o Tapa, claro, tentou subir em um enquanto o casal desesperado, pedalava na quinta velocidade para longe.

-Vamos para Paracas?

-Só se for agora!

Entramos no carro e seguimos sem delongas. Passamos por uma tempestade de areia muito sinistra e chegamos à cidade de Paracas.

Há exatos dois anos atrás a cidade foi destruída por um terremoto. De cara vi que estava tudo muito diferente.

Lembro de ter conhecido o Rei Momo três anos atrás neste lugar. Ele alugava uns barcos. Na época, ele continuava gordão, boa praça e bonachão. Parecia estar ganhando uma boa grana. Vinte minutos após este terremoto veio o maremoto e lambeu tudo que resistiu ao sismo. Hoje a cidade está em reconstrução.

O pessoal fala para não acampar perto da água por causa disso, mas achamos um lugar ótimo na frente do mar e ligamos o dane-se.

Assim que chegamos à cidade apareceu uma mulher no meio da rua.

 Estava em posição de goleiro e parecia querer agarrar o carro como se fosse defender um gol. Driblei a mulher e segui adiante sem dificuldades. Ela era danada e seguiu correndo o carro na velocidade da luz. Ignoramos. Ela me fez lembrar os desagradáveis flanelinhas do Rio de Janeiro.

No retrovisor eu via aquela criatura esbaforida correndo. Sem piedade, estacionamos com calma e esperamos sua abordagem desesperada.

-Isla Balestas?

-Ya, quanto sale?

-50 soles

-Caro! Tem más barato?

-35 soles, nada mas

-Ok! Amanhã eu te procuro

-Me pague agora e faço ingresso

-Não precisa, amanhã, ou depois de amanhã ou depois de depois de amanhã eu te procuro.

Insistentemente ela disse:

-Qual o nome de vocês?

Foi aí que eu errei...

-Ana e Gustavo e usted?

-Regina; disse ela

E Regina se transformou em um carrapato com presença freqüente em nossa permanência em Paracas.

Fomos para o calçadão que estava todo remaquiado após o terremoto. Comemos umas conchas e um polvo. Rango fresquinho e excelente.

E lá estava Regina, 30 minutos depois, com um papel na mão dizendo que o passeio estava garantido e que sairia no dia seguinte às 10 da manhã.

Virei para Ana e disse:

-Essa Reginavagina está sufocando!

Ataque de riso.

Reginavagina se adianta e diz:

-Favor pagar adiantado

-Não precisa. Não te garanto que estarei aqui às 10 da manha. Vou ver isso depois.

-Ok, ok, pague amanhã, quando for, se for...

-Veremos.

Passeamos pelo deserto de Paracas... este é sem dúvida um dos lugares mais lindos do Peru.

Passamos pela Catedral que era estonteante antes do terremoto e agora está apenas linda.

Cruzamos aquele desertão e vimos visuais mágicos que nossos olhos não estão acostumados. 

Subimos e descemos as enormes dunas de areia, como se estivéssemos em um carrinho de brinquedo. Foi irado.

Fomos dar uma pescoçada na Praia da Mina, um bom lugar para acampar. Após uma descida perigosa e super inclinada nos deparamos com um Farofamóvel Francês. Ele não tinha um cachorro... Ele tinha dois cachorros!!!!! O maior Husky Siberiano que vi na vida, cão que parece um lobo e puxa trenó na neve, e uma vira-latas.

Tive que chegar junto do cara e saber o que ele fez para chegar ali com aqueles dois cachorros. Ele não entendia inglês, tão pouco espanhol ou português, mas na língua dos macacos nos entendemos bem. Ele estava vindo trabalhar na Guiana Francesa, trouxe o carro de navio (Cia. Grimaldi) e os cachorros de avião. Era o que eu precisava saber. Valeu! Abraço!

Voltamos para a cidade de Paracas e acampamos na praia. As únicas cervejas geladas de Paracas estavam dentro do Farofamóvel e elas viraram xixi naquela noite.

No dia seguinte fomos para o píer tentar ir às Islas Balestas. Começamos a ser disputados por uns seis peruanos. Aproveitamos a situação desagradável e começamos a fazer um leilão reverso. Começou em 35 soles e acabou em 25 soles. Reginavagina perdeu a disputa. Toda bravinha ela foi embora com a expressão de: “Vocês vão ver!”

Fomos para o píer e esperamos nossa vez. Reginavagina, comendo milho com a boca aberta e com uma comunicação corporal desafiadora começou a me fazer perguntas estranhas como onde estava acampando, o que iria fazer depois...

Na hora de embarcar, Reginavagina com os bracinhos cruzados ficou do lado da moça que fazia o controle de quem ia entrar no barco. A moça do controle já disparou:

-Você fez a reserva com a Regina e por isso tem pagar o preço dela.

-Não fechei nada com ela, nem paguei nada para ela.

-Se quiser ir NO MEU BARCO tem que pagar o preço dela.

-Então não vamos, deixa pra lá.

Viramos as costas e fomos embora. Três minutos depois vinha Reginavagina, dizendo que topava os 25 soles e que a gente podia embarcar. O orgulho falou mais alto e dissemos para esquecer nosso passeio.

-Vamos para Lima!

Passamos por Punta Hermosa, Senhoritas, Cabaleros, Pico Alto... as ondas estavam quebrando com tamanho, mas o mar estava com muito vento. Lá me disseram que ao norte do Peru iriam quebrar ondas muito boas por uma semana e que os todos os surfistas estavam indo para lá. Chicama e El Faro vão bombar.

Chegamos a Lima e fomos ao Larcomar que é um Shopping a céu aberto em cima de uma falésia. Ali jantamos e fizemos nossa noite de sábado em bares que lembram os dos Estados Unidos.

Passamos por um hostel em Miraflores, que é o melhor bairro de Lima. Vi que tinha uma garagem com uma entrada alta e que o Farofamóvel caberia ali. Pedi para entrar, e para minha surpresa haviam mais quatro Farofamoveis estacionados ali. Era uma “marina” de Farofamoveis! Tinham dois da Alemanha, um da França e um da Argentina.

Esta seria a nossa casa em Lima! Aqui conhecemos o simpático casal de argentinos que moram na Terra do Fogo, Cristian e Malala que com seus 2 filhinhos irão até o México ou quem sabe Estados Unidos. Eles alugaram sua casa com seus 3 cachorros e 3 gatos e seguem em seu motorhome rumo ao norte sem prazos nem destinos pré definidos. Eles podem ser acompanhados no site http://fliarodante.blogspot.com/ 

Eles passaram por um tremor de terra em Iquique, 24 graus negativos nos Andes e seguem em frente sem pressa. Casal maneiro. Malala contou para a Ana que aqui em Lima os ladrões colocam um tubo com gás sonífero nos Farofamoveis estrangeiros, esperam os ocupantes desmaiarem e roubam tudo. Dormir na rua aqui é a maior furada.

Assim que sairmos de Lima seguiremos para o norte, em direção a Trujillo.

Norte do Peru, aí vamos nós!

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Comidas e bebidas maneiras

E continua a nossa fantástica experiência gastronômica no Peru. O mais famoso condimento do país, usado praticamente em todos os pratos, chama-se “Ají” (pronuncia-se arrí), a pimenta peruana. Essa pimenta é “porreta” e não é para qualquer um ... precisa ser “forçudo”!!! Não chega nem perto das nossas pimentas mais fortes, nem daquelas baianas “arretadas”. É servida como tempero à parte em praticamente todos os pratos que pedir.

As nossas “pedidas” de cafés da manhã não estão sendo das piores, como costumam falar do "desayno"peruano. Em todos os restaurantes e/ou cafés, onde são servidos, existem dois ou três tipos de combinações da refeição matinal. Se você é brasileiro e gosta do nosso tradicional café da manhã peça o americano, pois é parecido com o nosso. Este vem com ovos, presunto, suco de laranja, manteiga, geléia, pãezinhos e café, ou melhor, “chafé” hehehe. Caso tenha sorte poderá encontrar café de verdade, nós tivemos.

Experimentamos um famoso prato da comida “criolla” chamado “Tocu Tocu”. Ele é composto de carne em tiras, feijão frito, um arroz muito parecido com purê de batatas, cebola, pimentão e um molho muito gostoso. É um prato simples, porém muito saboroso, e o melhor de tudo é que lembra a comida feita por nossa mãe.

Comemoramos o meu aniversário com dois deliciosos pratos de frutos do mar. Um foi o “Pescado a Lo Macho” que vem com arroz, camarão, lula e polvo ...

e o outro foi o “Chicharrón de Pulpo”, lulas à milanesa com batatas fritas. Ambos dispensam comentários!

Em todo o país os “postres”, sobremesas, são diversos e variados. Mas preferimos não arriscar e experimentamos uma especialmente servida no hotel o qual acampamos. O “Panqueque ao Le Condor”, uma deliciosa panqueca com recheio e cobertura de chocolate com alguns pedaços de pêssego. Esse foi o meu “bolo de aniversário”. Não poderia ser melhor!

Em quase todo o país, assim como no Chile, o fascínio pelo Pisco continua. Tanto é que do sul do país até quase o centro há a famosa “Rota do Pisco”, e para quem gosta há diversos sabores... nós continuamos com o tradicional “Pisco Sour”!

Salud!

 

Recados

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