Eu sabia que aquela segunda-feira seria chata. Era dia de resolver as burocracias dos documentos do meu amigo fedorento, Tapa.

No Chile tudo fecha às 14:00 e só reabre às 17:00 e isso é um saco. Tudo sempre estava fechado na hora que a gente precisava de algo.

Acordamos cedo dispostos a resolver tudo e partir pro Peru, por isso fomos logo cedo para o SAG, o Departamento de Agricultura Chileno.

Eu e o Tapa entramos no prédio, subimos as escadas e fomos ao gabinete de cães e gatos. Entrar em um prédio do governo já é estranho, com um cachorro ainda por cima é coisa de doido mesmo, tenho que reconhecer.

O Tapa me puxava pelas escadas como se fosse perder o maior evento do século. Nas curvas quase derrubamos oficiais do governo por 3 vezes. Eu pressentia que sairia dali preso graças à felicidade descabida e sem motivo do fedorento.

-Olá, trouxe meu “perro” para pegar o documento necessário para ir com ele para o Peru.

-Precisa de um certificado sanitário de um veterinário chileno...

-Está aqui

-Cartela de vacinas?

Com a destreza de um advogado retirei da minha pastinha canina:

-Aqui está.

- Vacina anti rábica?

-Aqui.

Eu queria mais... pode pedir... tenho tudo!

-Ok, volte às 16:00, o veterinário não está.

Pô, não é possível!!! Tá de sacanagem!?

Acordei às 7:00 para resolver essa chatice e a mulher me manda essa! Estou nessa desde sexta-feira!

-Ok, 15:45 estarei aqui.

 

Depois de quase uma semana em Arica, posso garantir que a cidade começa a dar nos nervos. Não tem nada para fazer lá, a não ser beber e surfar quando tem onda.

15:45. Eu e meu amigo o “Sr. Alegria Sem Limites” estamos na salinha esperando o veterinário. Ele em vez de sentar, ou deitar como um cachorro normal começou a querer brincar de luta. "Sair na porrada" é o que tem de mais maneiro nesta vida pro Tapa. Vou morrer sem entender isso.

-Pára Tapa! Você tá maluco? Segura a onda!!!

-Tragam uma camisa de força pro “perro”; disse um oficial chileno.

A metade da sala achava engraçado e a outra metade estava bem incomodada.

Aquela tarde não haveria paz no escritório.

A sala dos caras tinha um chão branquinho e aquela pentelhada negra do Tapa estava começando a virar um tapete de pêlos.

Chegou o veterinário e pediu para analisar o Tapa, apalpando-o no pescoço, estômago, etc... Foi aí que começou a segunda luta da tarde. Vendo que seria difícil, ele fez bem rápido e me mandou para uma sala receber a papelada e depois pagar um boleto.

Depois que o responsável pela elaboração do documento terminasse o MSN com a namorada, eu talvez fosse liberado da tortura. Eu sentado na frente do cara e ele trocando idéia no chat.

Após algumas risadinhas contidas, graças às letrinhas que subiam na tela, o cara resolveu fazer minha papelada.

Depois de soletrar algumas vezes o meu nome e avisar que eu não era o Gustabo Bibacqua, o cara tentou imprimir a papelada. É claro que a impressora imprimia só a metade do documento. E  começou aquela luta que todo mundo já teve em casa com a impressora... sacooo.

Quando o cara ia me entregar o papel e me liberar me aparece o veterinário ofegante:

-Não libera os documentos não! Falta a vacina óctupla!

-Ué, mas a do Tapa está em dia!

-Os peruanos são malucos e exigem a cada 2 meses e não 1 ano como o mundo inteiro.

-Tem algum veterinário aberto a essa hora para dar essa vacina?

-Tem. Vou te dar um contato.

Sabia que essa segunda-feira seria perrengue...

E lá fomos nós, como uma bala. Tínhamos que estar de volta antes das 17:00, pois o SAG fecharia depois disso.

Chegamos lá e estava fechado. Esperamos abrir sapateando de nervoso.

Expliquei minha pressa e a veterinária mandou a agulhada no negão. Foi a terceira porradaria com o Tapa naquela tarde. Dar injeção no Tapa é uma luta séria.

A veterinária impressionada disse:

-Forçudo ele!!!!

Hahaha ...  “forçudo ele" !!! Ri muito.

16:45. Entrei no carro e fomos cantando pneu até o SAG. Subi a escada correndo e entreguei o papel pro cara, assim como se passa o bastão na corrida rasa por equipe.

Ufa, por minutos a gente ficava no Chile até na terça-feira.

Passamos a aduana peruana sem problemas e dormimos em Tacna a cidade mais ao sul do Peru.

Tentamos dormir em uma garagem, mas a dona, uma tchola peruana disse:

-Gente não dorme no carro, gente dorme no hotel.

Qual é senhora? Nós moramos no carro, não ferra...  tive vontade de dizer.

Fomos pro hotel e demos mole... esquecemos a geladeira do carro ligada.

Dia seguinte: Nheco  Nheco Nheco Nheco Nheco

Nada do carro ligar.

Peguei o Starter ,que já me salvou 2 vezes nessa viagem, e liguei no carro. Na terceira tentativa começou a pegar fogo nos fios! As duas baterias de ciclo profundo estavam arreadas e estava difícil ressucitá-las.

Fui na rua e chamei um táxi. Tentamos mandar uma chupeta no carro dele e nada.

Ferrou!

-Vamos em uma casa de bateria?

-Vamos!

A Ana ficou com o carro e lá fomos nós.

Aventura! O cara dirigia como um doido, fazia as curvas com os 2 pneus do lado esquerdo no ar, buzinava, xingava, falava no celular e fumava ao mesmo tempo...dirigia com os cotovelos no volante. Que figura! O carro caindo aos pedaços não tinha mais amortecedor, parecia que alguém estava dando umas marteladas na lataria.

 

Passamos por duas casas de bateria e nada. Fomos na casa dele e ele pegou uma bateria de caminhão. Tirei a minha bateria, coloquei a dele e vrummmmmm, deu certo!

Arequipa, lá vamos nós!

Subimos os Andes e Arequipa não chegava nunca. Muitos caminhões e curvas fechadas fizeram 40 km parecer 400km.

Chegamos de noite e fomos para a Praça de Armas. Lugar bacana.

A cidade fica nos pés de um vulcão nevado e as casas são feitas com lava.

Os terremotos são muito freqüentes por ali.

Depois fomos para Chauchila, um cemitério no deserto onde as múmias ficam expostas ao ar livre.

Elas estão ali desde 900 antes de Cristo.

Acho que estas múmias foram os primeiros rastafáris da história.

Próxima parada, as linhas de Nazca.

Estas linhas foram feitas a quase 2000 anos e nunca se soube ao certo o propósito delas.

Elas são enormes e só dá para vê-las do céu, ou seja, de avião. Tem gente que diz que foram feitas por ETs, pois tem gravuras gigantes de um astronauta,  

e também de um macaco, bicho que não existe no deserto.

Pegamos um aviãozinho e fomos ver as linhas. Ventos fortes e muita turbulência ... o resumo do passeio.

A Ana ficou desesperada e gritou" Socorro e Aí Gustavo" umas 20 vezes. Foi perrengue mesmo. Este foi meu segundo e último vôo nas "Linas de Nazca". Desta vez achei o vôo, naquele fusca com asas, bem mais emocionante que as linhas em si. Ainda mais, depois que descobrimos que um aviãozinho com 5 franceses caiu há 1 ano atrás e todos morreram. Sinistro...

Nos instalamos no camping de um Hotel chamado Ninho del Condor.

Lugar agradável, mas parecia um hospício de animais.

Haviam 3 lhamas, uma vesga, uma simpática e outra antipática, um viadinho carente com displasia, 3 pavões, uma tartaruga veloz e sedenta. Ela ficou uns 30 minutos bebendo a água do Tapa. Acho que ela estava uns 4 anos sem se hidratar.

Além de uma garça solta e um pombo. O "Pombo Escroto Peruano". Este sim era a criatura mais nojenta do camping.

Bastava você deitar na única rede do hotel que ele pousava em um galho e ficava cagando na sua cabeça. O bicho mirava o breoco na cabeça de que estava na rede.  A foto acima flagra o momento exato onde ele calcula a mira. A Ana viu e passou pela mesma situação. Biólogos do planeta, este pombo está no Hotel Niño del Condor, basta deitar na rede que vai ele irá aparecer imediatamente. Apareçam com a National Geografic lá...

E nesta semana foi aniversário da minha olhuda Ana Maria. Um motivo a mais para beber algumas cervejas peruanas!

 

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Comidas e bebidas maneiras

Exótica e colorida! Assim definimos a culinária peruana. Caracterizada por suas três principais regiões: costa, serra e selva, a culinária peruana é peculiar e carrega muita história e curiosidades. 

A região costeira com o pacífico é rica em peixes e frutos do mar, já a serra nos dá a oportunidade de experimentar uma grande variedade de batatas, milhos, carnes e pimentas. Os dois primeiros sendo os principais e mais fartos ingredientes do país. Já a região de selva, ou amazônica, que faz fronteira ao leste com o Brasil, caracteriza-se por suas carnes de caça, banana, mandioca e peixes de rio.

Uma curiosidade gastronômica deste país, o terceiro maior da América latina, é a grande quantidade de restaurantes de comida chinesa, os chamados Chifas. Os pratos são bem servidos e com o preço bastante em conta. Para quem gosta, vale matar a saudade!

Experimentamos por aqui a “Concha a La Parmegianna”. Trata-se de um delicioso marisco servido dentro de uma conchinha e envolto por muito queijo parmesão. É simplesmente divino! Comemos diversas travessas.

Outra tradicional comida peruana é a “Papa a La Huancaina”. Esta é composta por batata recheada por um delicioso creme de queijo. Normalmente este prato é servido como entrada. Pode pedir! Com certeza não irá se arrepender!

O Choclo, ou milho, é tão famoso por aqui quanto a batata, devido a sua fartura e variedade. Ele também é servido como entrada e/ou aperitivo. Pode vir tostado ou cozido e servido com fatias de queijo de cabra. Diferente!

Aqui duas cervejas são famosas: a Cusqueña e a Cristal peruana. A primeira é bem forte, já a segunda é mais leve e na nossa opinião a mais gostosa.

Uma curiosidade em relação às bebidas servidas nos país é que todas são servidas quentes! O engraçado é que reparamos as geladeiras em alguns restaurantes e a temperatura delas estava no grau um, ou seja, o mínimo possível. Para o brasileiro é inaceitável beber uma cerveja quente! Portanto, fique atento nos locais em que for pedir uma e peça a mais gelada possivel, quem sabe você dá sorte.

Não podemos deixar de falar da Inca Kola, um refrigerante tão tradicional no país quanto a Coca-Cola. A cor lembra produto de limpeza e o gosto de tuti-fruti não é lá grande coisa, mas vale experimentar.

Nos próximos darios de bordo falaremos mais sobre a surpreendente experiência gastronômica que estamos tendo por aqui. Até lá!

 

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