Depois de uma imersão de quase seis meses no mundo mulçumano, sendo cinco no Oriente Médio e um no Marrocos, eu não aconselharia ninguém a levar um cachorro para essas bandas.

As pessoas são boas, todos são gentis, mas seu cachorro será visto com uma criatura suja, principalmente, se ele for todo preto.

Andar com um cachorro por lá é a mesma coisa que passear nas praias do Brasil com um porco na coleira. Os caras vão ter uma mistura de curiosidade com nojo.

Em todas as aduanas, os fiscais das fronteiras abriam o carro, faziam cara de "éca" e suspendiam a vistoria. Depois, nos liberavam rapidamente de tanto nojo.

Todos perguntavam por que o Tapa era tão preto. Isso não era bom sinal para eles.

 

Neve é legal. Neve é bacana. Mas chega uma hora que ela enche o saco.

No frio extremo a imunidade do organismo cai bastante. Febre e gripe começam a aparecer.

Chega de frio absurdo! Vamos catar uma praia!

E essa é uma das coisas bacanas da Turquia. No inverno você pode escolher o que prefere.

Praia ou neve? Tem os dois.

Acampamos cinco dias na frente de uma praia de cascalho.

Era abrir nossa janela e ver o mar com a praia de pedrinhas redondas.

Esperamos o sol chegar, mas ele não veio.

Não teve problema.

Não foi empecilho nenhum para os nossos churrascos de sempre.

Partimos em direção oeste onde o sol estava mais forte.

Nossa primeira parada foi no Marmure Calesi. Um incrível castelo medieval de frente para o mar.

Acampamos ao lado dele, na frente de uma praia deserta. Um lugar lindo!

Se não fosse uma criação de abelhas neuróticas a vinte metros do nosso carro, teria sido perfeito.

Quanto mais para oeste, mais sol e mais lugares surpreendentes.

O recortado litoral turco é cheio de paisagens incríveis.

Acampamos em uma praia enorme por três dias. Desta vez, esta era de areia.

Nosso acampamento ficava em um lugar alto e o por do sol lá de cima era singular.

O dia esquentou, mas a noite permanecia fria... Muito fria.

Mesmo assim nosso churrasquinho sagrado precisava acontecer.

Dia após dia, o sol dava seu show.

Lá atrás daquelas montanhas nevadas ele desaparecia e o céu ficava tooooodo rosa.

E, finalmente, chegamos a uma das cidadezinhas mais agradáveis de toda Turquia.

Kas seria nosso lar durante um mês!

Um dos melhores campings de toda a viagem! Barato, limpo e lindo!

Uhuuuu!

A água cristalina... Comida barata e deliciosa.

Era o "pico" certo para jogar âncora e esperar o frio do norte amenizar um pouco.

Todo mundo chegava com a intenção de ficar uns três dias, mas o lugar era tão bom que o dia de ir embora sempre era adiado.

Nosso camping começou a parecer um condomínio. O pessoal chegava e ninguém ia embora.

Assim como nossos simpáticos vizinhos franceses, Bernard e Nicole com o cachorro Fiji, um casal de suíços, um grego e um neo zelandês...

... Além de um casal de alemães, Kai e Ulrike, que estavam indo de bicicleta para China com seus cachorrinhos Clara e Leo.

Tava tudo muito bom... Tava tudo muito bem...

... Até o dia que o Tapa foi visitar o cachorro assassino que tomava conta do camping.

Um dia antes ele tinha arrancado um bife da perna de uma desavisada que passou perto...

... Conclusão da história: O fedorento ganhou seis furos pelo corpo e quase perdeu o saco.

As "bolinhas" do meu amigo ficaram penduradas!!!

O veterinário colocou as duas para dentro e costurou "os negócios" dele.

Humilhado, o fedorento voltou para casa com um abajur rosa na cabeça!

Esse abajur serviu para evitar que ele lambesse as feridas e soltasse as dezenas de pontos que ele tinha espalhadas pelo corpo.

Morar quase dois anos com a mulher e um labrador "peidão" na caçamba de uma pick up é mole.

Mas quando o "peidão" ganha um abajur na cabeça, o reduzido espaço do carro começa a ser um grande transtorno.

Toda vez que ele se mexia, seu abajur rosa arranhava a gente.

Para piorar a situação foram duas semanas seguidas de tempestades e ventos fortíssimos!

Duas semanas inteiras dentro do carro com o nosso cachorro abajur!!!

Aquele abajur rosa ficou semanas em sua cabeça e foi um castigo para nós três.

E lá em Kas, comemorei meu segundo aniversário nessa longa jornada.

Três oitão... Uma idade de calibre.

A Ana me deu um bolo delicioso.

E partimos cruzando as lindas praias turcas.

Somente lá percebi que a cor azul turquesa é uma homenagem ao belíssimo mar da Turquia.

Acampamos na linda praia de Oludeniz.

Depois seguimos para Marmaris, aproveitando o o conselho dos nossos vizinhos franceses de Kas.

Lá estava ancorado o maior navio do mundo. O porta aviões americano USS Enterprise.

Ele, na vertical, é quase do tamanho do Empire State Building.

Os fuzileiros, de folga, estavam se divertindo um bocado nos dias que passamos por lá.

A população do navio com cerca de três mil militares lotou a cidade.

Resultado: hip-hop tocando super alto nos restaurante e soldados bêbados sendo rebocados em pára-quedas por lanchas.

Um dia o navio partiu e o silêncio tradicional das pequenas cidades turcas voltou a reinar.

Partimos para Éfeso. Ruínas de uma cidade construída no ano 550 antes de Cristo.

Com o maior anfiteatro do mundo na época, para mais de 25.000 pessoas, tinha também um cemitério de gladiadores.

Esta foi a segunda maior cidade do Império Romano. Atrás apenas de Roma.

Depois dormimos em um camping em Troia e ficamos desapontados com o Cavalo de Troia que tem na entrada das ruínas.

Se você quiser ver um Cavalo de Troia alucinante vá para Çannakale, a 20km de distância.

Lá está o cavalo original que foi usado no filme hollywoodiano TROYA com Brad Pitt.

Beeem mais maneiro.

E foi em Çannakale que levei a Ana no hospital, pois ela reclamava de freqüentes dores na altura do ovário.

Após o exame de sangue, aparece a enfermeira e avisa:

-Vocês estão grávidos!

Nos olhamos com a mesma cara de: Ferrooooooooou!!!!!!

-Você vai me dar um repolho olhudo de presente, é?

-Vou - disse a Ana emocionada.

E, em segundos, todas as prioridades da vida mudam.

-Vamos embalar o Farofamóvel e voltar para a América do Sul.

Depois o médico, que só falava turco, disse que teríamos que voltar no hospital algumas vezes para fazer exames, pois era uma gravidez de risco.

Durante quase uma semana ficamos em uma tensão danada. Cabeça a mil.

Nosso repolho tinha até apelido: era o Turquinho.

Mas, infelizmente, aconteceu um aborto natural.

Não foi dessa vez que o Tapa iria ganhar um novo amiguinho.

Nossa terceira passagem pela Turquia teve momentos extremos de relaxamento e tensão.

E aprendi mais uma grande lição nesta viagem: As grandes guinadas na vida acontecem num piscar de olhos e sem aviso prévio.

Pegamos um ferry boat para partir.

Na popa do ferry estava a Ásia, na proa estava a Europa.

A Bulgária seria o nosso próximo destino.

Comidas e bebidas maneiras

Nossa terceira e última passagem pela Turquia foi uma mistura de prazer com fortes emoções. Acampamos em alguns lugares agradabilíssimos, de frente para o mar, e, encontramos, na imensidão de praias turcas, um lugar que lembrava, e muito, a nossa casa. Foi amor à primeira vista!

Por lá, ficamos um mês sem tirar o Farofa do lugar. Fizemos churrascos memoráveis, comemoramos os 38 anos do Gustavo, levamos um grande susto com o nosso fedorento no episódio do cachorro assassino que quase castrou nosso amiguinho e, na última cidade que passamos por lá, Çannakale, vivi uma das maiores emoções da minha vida, ao saber que estava grávida sem planejar. Porém, a notícia nos deixou mais apreensivos do que felizes, pois o médico nos deu três possibilidades, como minha taxa hormonal estava muito baixa para o tempo de gestação. A primeira, uma gravidez normal, a segunda, uma gravidez tubária, portanto impossível de seguir adiante, e se não cuidada a tempo, de alto risco para a mãe, e a terceira, uma gravidez que acabaria com aborto espontâneo. Das três possibilidades, é óbvio que queríamos, e muito, a primeira. Até apelido o nosso repolho já tinha! Foram alguns dias de sofrimento, angústia e muita dor, indo do hotel para o hospital e vice-versa. Mas, o plano superior tratou de dar um jeito nisso, da forma como achou melhor no momento, e fez com que tudo se ajeitasse naturalmente. Sofri um aborto espontâneo. Hoje, já estou praticamente 100% de novo. E, mais uma vez, aquela frase clichê, mas que não tem nada de clichê, fez valer-se na minha vida, tudo acontece na hora certa. E que assim seja!

Quando voltamos para a Turquia decidimos passear por seu lindo litoral, pois não tínhamos visitado nas vezes anteriores. E acertamos em cheio. Campings com visuais incríveis e do jeito que a gente gosta, de frente para o mar.

E, obviamente, foi um motivo a mais para comemorarmos nossa passagem por estes lugares. Churrasco foi a palavra de ordem!

Mandamos ver na queima de carvão praticamente todos os dias com direito a muita cerveja gelada. A Efes foi a campeã e a mais presente em todos os churrascos.

As outras fizeram sucesso, mas nem tanto assim. Aproveitando o fim do inverno experimentamos a Gusta Dark, saborosa versão escura da Gusta que já mostramos aqui...

... A Efes Dark Brown, uma versão escura da infalível Efes tradicional, com leve toque de café. Vale experimentar!

... E a Efes Dark. Cerveja escura, sem grandes novidades no sabor.

Mas também rolou cerveja muito ruim nesta leva de degustação. A Mariachi Dry, com gosto de limão, de origem turca. Não fez sucesso.

Às vezes, para compensar o preço da cervejinha, bebiamos vinho...

... E que também caia como uma luva, principalmente nos dias frios que fizeram por lá. Bebidas alcoólicas na Turquia são como nos paises árabes, quando tem são caríssimas.

Após duas semanas em Kas, onde nós faziamos compras, todo mundo já nos conhecia, principalmente porque nosso fedorento ia conosco e chamava atenção com seu vibrante abajur rosa na cabeça. Era engraçado! Todo mundo olhava pra ele. O pessoal das vendinhas sempre nos oferecia os melhores pães, verduras, legumes e os melhores peixes também.

Alguns dos nossos churrascos foram de peixe, aproveitando que a cidade é um reduto pesqueiro importante daquela região. Cada peixe lindo, gordo e barato!

Além dos churrascos de peixe e de frango, este último mandatório por causa do seu preço, sempre muito mais barato que a carne vermelha, comemos ambém espetos de kafkas deliciosos, mas não tão baratos.

Algumas vezes durante a semana, um casal de senhores, passava o dia todo catando azeitonas caidas no chão.

O camping de Kas era cheio de oliveiras por todos os cantos...

... E vê-los por lá, sempre felizes, fazendo os seus trabalhos era bacana.

Para comemorar os 38 anos do Gustavo, o segundo durante a nossa viagem, fizemos um super "churrascão" que durou o dia todo e varou noite adentro. Foi um dia muito especial!

Após o nosso mês de "férias" em Kas, levantamos acampamento e começamos a subir rumo ao oeste. Um dos nossos últimos acampamentos por lá foi na cidade onde estão as ruínas de Éfeso. E, na cidade onde estão as ruínas, descolamos um camping super bacana aos pés do Templo de Artemis. Que sorte!

Na reta final no país, na cidade de Çannakale, como tivemos que passar um bom tempo pulando do hotel para o hospital, nossas refeições eram feitas em restaurantes. E sempre ficávamos surpresos como um excelente prato de comida na Turquia é muito mais barato que no Brasil e em diversos outros lugares que visitamos. Comemos novamente as deliciosas meat balls...

... Kebabs...

... Além de outros pratos locais...

 ... Todos sempre saborosos!

Difícil dizer qual passagem pela Turquia foi a mais incrível. Mas, posso afirmar, sem sombra de dúvida, que esta foi a mais emocionante!

Até a próxima!

 

 

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